A canção da madrugada

Atenção: Postagem longa!

 

Capítulo 1:As lágrimas da princesa

_Todos! saiam do caminho! Rápido!-Essas palavras foram repetidas a manhã inteira, alguma coisa importante estava para acontecer, longe da baderna, algumas fêmeas conversavam, eram gritos sussurrados, um pouco abafados e ofegantes.

_Isso lá é forma de tratar o povo? A guarda real está cada vez mais arrogante!-Disse uma onça negra deitada ao sol, tentando ver a confusão de longe.

 _Ouvi dizer que hoje é o dia em que a princesa escolherá o seu noivo! É um dia importante, os pais dela pretendem realizar a cerimônia em público, para que todos possam saber o nome do futuro rei!-Respondeu uma raposa-do-deserto, parecendo muito calma.

_Eles poderiam simplesmente anunciar isso depois, não há motivo para atrapalhar a vida dos súditos!-A outra ia responder, mas um som de um rugido cortou sua voz pela metade, a hora havia chegado, todos observavam com atenção o ponto branco estonteante que se aproximava, era a princesa.

 

Ela exibia um belo sorriso, um sorriso falso e muito bem treinado, mas era um sorriso tão maravilhoso que alguns ousariam dizer que o sorriso falso da princesa era melhor que o verdadeiro, os jovens pretendentes corriam em círculos ao redor dela, aparentemente deixando-a tonta, mas isso não a impediu de sorrir, de fato ara uma ótima atriz, o falatório cessou como num passe de mágica assim que ela parou, subiu em uma plataforma posicionada no centro do reino e observou os candidatos sentarem-se diante dela.

_Senhoras e senhores, hoje é um dia muito especial para todos nós, principalmente para minha filha, Zafara!!-A voz era autoritária e firme, mas tinha um toque de doçura, a rainha era boa com as palavras, isso era um talento que todos conheciam- Hoje todos nós conheceremos o nosso futuro rei, aquele que herdará essa terra ao lado de minha filha quando eu e meu marido deixarmos esse mundo! 

A infelicidade era perceptível no olhar da princesa, ela observava cada um dos rapazes, mas não teve interesse em nenhum, ela tinha considerado a possibilidade de fugir de madrugada, mas lhe faltou a habilidade necessária para sobreviver, a possibilidade de se suicidar, mas lhe faltara coragem, a possibilidade e confrontar os pais, mas lhe faltara força, tudo o que ela pode fazer foi sentir o gosto de suas lágrimas durante a noite, e exibir o sorriso que treinara durante dois meses na manhã seguinte. A rainha fez o que melhor sabia fazer durante trinta minutos, falou, falou palavras de motivação e de orgulho, a princesa tentou se convencer com as palavras da mãe, mas foi inútil, se todos pudessem saber como ela se sentia naquele momento... O vento estava frio, mas não mais frio do que o coração e alma de jovem princesa, a hora havia chegado, ela se levantou, respirou fundo e disse o primeiro nome que conseguiu se lembrar, não havia tempo para pensar, o dono do nome por ela dito quase derramou uma lágrima com a emoção, ele sim exibia um grande sentimento pela futura esposa, mas esse sentimento não era mútuo, e talvez nunca viesse a ser.

Isso gerou uma outra confusão, chapéus atirados para o céu, gritos e assobios vinham de todos os lados, a alegria estava no rosto de todos, menos no de Zafara, que se conteve o máximo que pode para não chorar, a festa se estendeu durante o dia todo, já era tarde da noite quando Zafara conseguiu se livrar das pessoas a parabenizando, ela se escondeu atrás de uma das inúmeras casas ao redor da praça, e deixou que as lágrimas fluíssem e que a tristeza tomasse conta se seu ser, pela primeira vez na vida, ela desabou em pranto.

_Acho que estou sonhando, vossa majestade Zafara, a princesa do reino da grande rainha Scarlet chorando? Pensei que você tivesse um coração de ferro revestido em ouro! - As lágrimas pararam subitamente, junto com a voz feminina que parecia vir de todos os lugares que ela olhava, Zafara pisou com força no chão úmido, mas de alguma forma, um leve choque elétrico atravessou sua pata, ela recuou e ficou petrificada com a visão que teve, uma leoa de aparentemente 16 ou 17 anos, sobre o telhado de uma das casas, olhando fixamente para ela.

_Você não está feliz, pessoas felizes emitem boas vibrações e auras menos escuras! O que está te incomodando?- Ela perguntou sorrindo, ah, dessa vez era um sorriso muito verdadeiro!

_Porque quer saber?-Zafara disse secamente, sem olhar nos olhos da leoa.

_Tudo bem, tudo bem, se você não quer me dizer eu não vou te obrigar! A propósito, me chamo Ashura!-A leoa desceu do telhado com um pulo, e sentou ao lado da Zafara, que permaneceu emburrada em seu canto.-Você é bem caladona né?

_E você fala muito!

_É o que todos dizem!

O silêncio reinou por alguns minutos, enquanto Zafara tentava não chorar.

_Não se preocupe, eu conheço a sua dor!_Disse Ashura, se escorando na parede da casa.

_ O que você pensa que sabe sobre a dor?-Zafara parecia angustiada e irritada, a presença de Ashura não estava ajudando.

_Hummm... Bem, minha mãe sumiu em uma noite chuvosa quando eu tinha nove anos, ninguém se importava comigo, tanto que, certa noite, sem mais nem menos, toda a minha aldeia sumiu, me deixando para trás, então... não, eu não sei nada sobre a dor!-Ashura encarou Zafara com frieza, e um pouco de tristeza anexada, mas logo ela voltou a sorrir.

_Nossa! É uma vida e tanto!-Disse Zafara, um pouco arrependida das palavras rudes que acabara de dizer.

O silêncio mais uma vez...

_Você é nova por aqui não é?-Zafara perguntou.

_Eu sou nova em todos os lugares, não tenho uma morada fixa!-Ashura parecia orgulhosa da vida que levava.

_Você é uma eremita?-Zafara parecia surpresa - Eu nunca vi uma pessoalmente!

Ashura sorriu ainda mais, feliz pela admiração que recebia da jovem de sangue real.

_É, todos dizem isso também!

_Me desculpe por ter sido tão rude, eu sinto muito!-Disse zafara, arrependida - Eu sou um pouco hostil no início, mas você se acostuma!

_Talvez eu não tenha tempo pra me acostumar! Essa é minha primeira e última noite por aqui! Mas gostei muito de falar com você princesa!-Ashura já se preparava para ir, limpando a poeira imaginária de seus ombros.

_O prazer é todo seu!-Zafar também levantou, com um sorriso no rosto, dessa vez era um sorriso improvisado e verídico.

_Nossa, quanta humildade!-Zafara riu, a presença de Ashura começou a fazer bem para ela.

Zafara deu alguns passos em direção a festa, suspirou, olhou para trás e disse um breve "obrigada", e se foi, deixando Ashura sozinha com seus pensamentos, a jovem "eremita" continuou na direção da saída do reino, orgulhosa de si mesma, ela ia continuar a salvar almas, assim como sua mãe havia lhe ensinado, "O caminho mais rápido para a felicidade é fazê-la acontecer"...

Continua...