A canção da madrugada

Prólogo

     Existem alguns lugares incríveis, lugares em que ter olhos não é o suficiente para enxergar, lugares que ninguém jamais imaginou sua existência, nossa história começa em um desses lugares, em um lugar devastado pelo ódio, pela guerra, pela discórdia e pela rivalidade, mas, pessoas(nesse caso, animais) incríveis podem nascer nos lugares mais improváveis...

        _E então, o que vamos fazer com ela?-Indagou uma velha leoa dourada, caolha e com inúmeras cicatrizes de batalha pelo corpo.

        _Talvez devêssemos matá-la!-Falou um leão magro, com juba escassa-Não vai durar muito tempo sem a mãe, se não morrer de fome, vai morrer de frio, vamos apenas poupá-la do sofrimento, isso vai ser rápido!

        Ele estava prestes por as garras no pescoço da filhote, quando foi impedido por um tapa nos olhos, não foi forte, mas foi o suficiente para ele se afastar.

        _Idiota! Faz ideia de qual é a pena por matar inocentes?-Gritou a leoa com impaciência-Se a rainha vê-la morta, irá até o fim do mundo para saber o culpado!

  

        _O que quer que eu faça então?-Ele perguntou.

        _Leve-a até a floresta e deixe-a por lá!

        _Quer que eu abandone o filhote?-Perguntou com incerteza.

        _Largue ela perto do grande rio, todos vão lá, alguém vai encontrá-la e ficar com ela! Ou você quer sujar suas patas com o sangue de uma inocente?-O leão engoliu em seco, ela parecia estar falando sério, pegou o filhote com cuidado, e correu em direção do sul, deixando o olhar rabugento da velha leoa para trás.

        Ele correu durante algumas horas, até chegar na entrada da floresta, era densa e provavelmente cheia de cobras, insetos e outras coisas irritantes, ele considerou a possibilidade de deixá-la ali mesmo, mas a voz irritada da leoa ecoou pela sua cabeça, "Largue ela perto do grande rio", ele não queria contrariá-la, não gostava de lembrar do que aconteceu da últimas vez que ela foi contrariada. Ele ouviu o som da água depois de poucos minutos de caminhada, lá estava, o grande rio, ela uma listra larga de água, que separava dois reinos. Ele largou a filhote no chão sem a menor delicadeza, ela abriu os olhos, profundos olhos amarelos.

        _Eu poderia matá-la aqui mesmo sabia?...Mas, vê essa cicatriz?-ele apontou para uma grande e profunda ferida em seu ombro, não havia cicatrizado muito bem, era algo recente-Essa é a pena por contrariar aquela velha decrépita!

        A filhote se sentou e encarou o leão, era a primeira vez que ela via um leão adulto na sua vida, parecia curiosa.

        _Por que está me olhando com essa cara? A culpa não é minha! Se quiser, quando crescer pode voltar e se vingar dela! Eu não vou te impedir!-Ele falou com indiferença-Olha só pra mim! Falando com um filhote que ainda nem sequer aprendeu a falar!

        Ela continuou olhando, uma gotinha de pena se formou na consciência do leão, ele já estava desistindo de abandoná-la...

       _Pare de me olhar assim! Já disse que não é minha culpa!-Ele suspirou-Quer saber? Venha cá!

       

       Ele pegou a filhote outra vez, atravessou o rio e continuou caminhando, o sol já estava se pondo quando ele finalmente parou, olhou para os lados e viu um pouco de fumaça, ele havia chegado a seu destino, parou perto de um pequeno lago, e a deixou no chão novamente, mas dessa vez, tomou cuidado ao larga-la...

       _Um dia você ainda vai me agradecer, acredite!-Ele farejou o ar, um cheiro familiar tomou conta do ambiente, era uma leoa, ele se escondeu, e observou atentamente.

       A leoa surgiu da grama alta, ela era dourada, tinha algumas marcas de tinta azuis em seu rosto, que formavam desenhos complexos, haviam algumas penas atrás de uma de suas orelhas,provavelmente era a curandeira do bando, ela se aproximou do lago, quando abaixou a cabeça ela ouviu um miado, era um filhote, ele estava do outro lado do lago, parecia procurar alguma coisa por entre as árvores, porém sem sucesso, a leoa a observou por alguns minutos, antes de finalmente se aproximar, a filhote se agitou ao perceber a proximidade da estranha, mas a leoa foi mais rápida, a pegou com a boca, deitou e colocou-a entre suas patas, a filhote estava ofegante, com pequenas lágrimas no canto de seus olhos.

       _Shhhh... Tudo bem, está tudo bem, eu não vou machucar você!-Ela disse com ternura, a sua voz parecia acalmar a filhote.-De onde você veio? Onde está a sua mãe?

       E é claro, como você pode imaginar, a filhote não respondeu.

       _Não se preocupe, eu vou cuidar de você! Seu nome vai ser Ashura! Eu serei a sua mãe agora!- A filhote começou a se acostumar com a proximidade da leoa, e logo já estava dormindo entre suas patas.

       A leoa riu, ela não tinha leite, mas seu espírito materno era grande o suficiente para em breve ela mesma poder amamentar o filhote, só precisava de paciência, ela lambeu a cabeça de Ashura, e a trouxe mais perto, tentando mantê-la aquecida. O leão ainda observava, com o sorriso no rosto.

       _Boa sorte bola de pelos!-Ele sussurrou, enquanto abandonava o local.

CONTINUA...